sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Apenas um fato






"Você vai a Santa Mônica, na Califórnia, abre a lista telefônica, e está lá: 'Fundação Elizabeth Taylor contra a Aids'. A aids mobiliza, hoje, milhões de pessoas em busca de apoio para evitar que ela se propague ainda mais. Mas a aids não é o fator que mais nos preocupa no mundo; é a fome. Não existe a 'Fundação Elizabeth Taylor contra a fome'. Por quê? Porque a aids não faz distinção de classe. E a fome faz. É como se nós, da elite, cinicamente disséssemos: 'Olha, que se danem os pobres, vamos trabalhar pela aids, porque isso, sim, pode nos atingir'. A fome não. Na elite, quanto mais a pessoa tiver fome, mais esbelta vai ficar." 



Diálogos Criativos - Domenico De Masi, Frei Betto









Fotógrafo: Kevin Carter 
Desfecho: Suicídio







segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ten Little Niggers







Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinho vão a Devon de charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colmeia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no foro, a tomar os ares;
Um ali foi julgado, e então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no Zoo. E depois?
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando a sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não ficou nenhum. 








O caso dos dez negrinhos - Agatha Christie




domingo, 2 de setembro de 2012

Viviane Botelho Louro Pereira




'Viviane' dá vivas a vida. 'Botelho' gera piadas. 'Louro', trocadilhos. 'Pereira' a coloca no meio do povo. Ela tem sobrenomes demais. Filha mais velha. Mas não velha. 19 aninhos. Carioca. E o glamour da zona sul fica na zona sul, longe de sua zona oeste. Da zona oeste para a serra. Da serra para São Paulo. Muita mudança, muita mudança. Mudança genética. Os ditos traços indígenas e africanos foram fortemente escondidos pelos de portugueses, franceses e suíços. A pele é branca. Bem branca. O cabelo é loiro. Costumam falar dos olhos. Ela gosta dos seus olhos verdes. Todos os olhos são diferentes. Todos os olhares são diferentes. Todos são diferentes. Ela respeita muito as diferenças. O respeito mútuo é conservador. O respeito mútuo é inovador. Diferentes jeitos definem diferentes escolhas, em nome de Jesus, amém! Seus princípios presbiterianos são muito bem consolidados. Filhos na fé cristã, por favor. E, por favor, digam a ela para parar com a péssima mania de ser tagarela. Seu namorado consentirá. Graças a Deus que ao menos não é fofoqueira. Muitos amigos estariam em condições nada agradáveis se o fosse. 




Ótima anfitriã. Ser agradável é não ser orgulhosa. Que tal uma conversa para melhorar as situações? Sempre aberta a diálogos. Sempre com livros abertos. Lê dois por vez, no mínimo. Ela gosta de ter opções. Ela não gosta é de ter que escolher. Por que escolher uma cor favorita? O arco-íris é mais bonito. Muita indecisão, muita indecisão. Mais brasileira que flamenguista. Menos funk, mais rock. Bem menos funk. Nada, se possível. Possivelmente preferirá piscina. Praia é para admirar a natureza e pensar na vida. Ou esquecer-se dela. Não acha que banho foi feito para se tomar de chinelo. Playstation é chato. Supernintendo é muito mais legal. Mas o legal mesmo foi terem inventado a prancha de cabelo e Harry Potter. Nada de café, Coca-Cola ou mate. Ela odeia cafeína. Bolinha de queijo e coxinha é que abalam suas estruturas. Gostava de se imaginar ganhando a vida cantando. Mas foi o Jornalismo que a fisgou mais forte. Coragem passou a ser sua melhor amiga. Força de vontade, a mais bem-vinda aliada. E o que mais ela espera é nunca perder a sabedoria de saber usar o verbo 'amar'.








                                                                                             Photo: Norma Odara







Viviane Botelho



Amargor









Dor.
Desespero.
Sufocamento.
Nó na garganta.
Aperto no coração.


E eis o amargor visível: transborda o olhar, escorre pelo rosto, queima a pele.












Viviane Botelho



O Universo agradece