segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Apenas isto



"Aceito o fato de que não preciso fazer o que todo mundo faz.
Posso fazer o que é certo pra mim"
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Querido John
Nicholas Sparks




sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sem querer querendo




Água me lembra mar, piscina, férias. Vento me lembra pipa, vestido, liberdade. Fogo me lembra o sol (tão desejado no inverno), o calor, churrasco, amigos. Pensar em terra me faz desejar chuva, brincar na lama, ser criança. E como é bom pensar em tudo isso!

A partir do momento em que se escolhe atribuir sensações boas a algo, a perspectiva de mundo muda. Essa mudança se faz importante para a percepção do quanto é possível alcançar a essência do que é a felicidade nos detalhes, ou seja, no que há de mais simples. Ser uma pessoa feliz não implica, necessariamente, ter dinheiro para comprar de tudo, ou se aventurar nos esportes mais radicais constantemente, ou, ainda, ganhar prêmios e mais prêmios para ser reconhecido. Tomar um banho de chuva, beber um chocolate quente em um daqueles dias mais frios ou, apenas, observar o quão linda é uma borboleta em seu voo, são simplicidades que nos preechem e trazem bem-estar, sem pedir muito.

Quando pensei em água, poderia imaginar um afogamento. Quando em vento, poderia pensar em furacões. Fogo, incêndios e terra, em desastres ecológicos. Mas optei pelo otimismo, dessa vez, e por palavras que remetessem a singelos momentos da minha vida.

A mais pura felicidade é encontrada nas situações mais inusitadas em que, de repente, se sente prazer e satisfação.

E se resume a isto.




Viviane Botelho



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Singular




Como se fosse um hábito longínquo sentir aquilo. Não era. Uma sensação reconfortante que transformou a mais louca empolgação na mais singela serenidade. Em questão de segundos, já havia se familiarizado de tal forma com o que estava sentindo que viciara. Não queria que aquele magnetismo, aquele choque de emoções, acabasse. Era lindo demais, era puro demais para que se esvaísse. Seus olhos quase não piscavam e seu corpo não movia um músculo. Não fazia sentido se mexer. Poderia perder um segundo e isso seria quase um sacrilégio para ele. A cada suspiro em seu peito, agradecia à Deus pelo privilégio de estar ali para viver algo que jamais se imaginou capaz de sentir. Quase como que por instinto soube que zelaria com todas as suas forças e, se necessário, com sua própria vida por aquilo que o fazia se sentir daquele jeito. Não explicaria: sentiria; faria.
  

                                                          Petrificado.

Era um lindo berçário. Ele tinha em seus braços seu primeiro filho, que o observava atentamente. Parecia saber que aquele, com a cara mais boba da face da terra, era seu pai. Era a ternura personificada em sua melhor forma.



Viviane Botelho




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Enough






                                                                                                                            photo: web

                                                                                                                                 






Tudo passar. Deixar pra lá.
Descansar. Botar as pernas pro ar.
Um quarto vazio e pensamentos leves.
Uma praia deserta.

O vento pra levar todos os problemas embora.





Viviane Botelho




quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sinceridade





- Vai lá que vai dar certo!
- Não sei, não.
- Para de bobeira. Se não for logo, aí que não vai saber mesmo.
- Ah, vai... Deixa isso pra lá.
- Vou ser obrigada a te forçar?
 - Eu quero você, não a sua amiga.





Viviane Botelho




segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Contentamento




Ela era uma menina solitária. Não tinha muitos amigos. Na verdade, considerava não ter nenhum. Sempre ouvia dizer que uma amizade de verdade era aquela recheada de boas risadas e bons momentos, mas alicerçados em total confiança, encorajamento e apoio quando estes não fossem os melhores. Nunca teve alguém que sentisse poder confiar sequer um segredo, pois desde o dia que um de seus lápis de cor fora roubado por um de seus colegas no jardim de infância, aprendeu que não há como saber o que esperar de alguém. Aquilo foi só um prelúdio de coisas maiores que estariam por vir em sua vida.

Mas havia uma coisa em que acreditava. Diziam ter o nome de amor. Acreditava que esse era um sentimento que talvez considerasse capaz de mudar algo. Enxergava assim, pois gostava de pensar em sua origem, a qual remetia ao sentimento forte que seus pais um dia compartilharam. Verdade que este não possuía mais a intensidade de antes, mas em algum período da história foi capaz de gerar uma coisa maior, uma nova vida. A sua vida. Então, isso não poderia ser qualquer coisa. Sentia que deveria, de alguma maneira, continuar de onde seus pais, hum... desaceleraram. Mas não sabia bem como. Via tanta maldade pelo mundo que era difícil ver um meio de expandir esse tal amor.

Descobriu que excesso de amor poderia trazer coisas ruins, na medida em que esse excesso se tornava, na realidade, em um outro sentimento nada agradável, um tal de ódio. Não trazia consequências muito boas. Aos poucos, também percebeu que aquela definição de amizade que aprendera nada mais era do que um amor solidário, carinhoso, divertido, que chegava a viciar de tão bom. Chegou a ter um devaneio de que esse vício fora apelidado de "amizade" só pra diferenciar do amor mais forte, aquele exaltado nos livros de romance. Mas tudo aprendeu sozinha, observando, escutando, analisando. E, cada vez mais, tinha a convicção de que esse sentimento tinha poder. Quando se sentia mal, derrotada, desiludida, lembrava de seus pais. Sentia-se melhor. Aprendeu uma nova palavra: esperança. Poderia ser um tipo de amor também, mas um diferente, que estaria por vir, talvez. Ou ligado à alguma certeza, mesmo que mínima. Tinha suas dúvidas. Mas era uma sensação boa. Trazia paz.

Ela não chegou a experimentar todos os amores possíveis, se é que havia experimentado algum. Acreditava estar muito longe deles. Só via tristeza em sua caminhada de vida. Gostava é de observar a tudo e a todos. Aprendeu que havia sim a possibilidade de confiar em alguém, mas não achava que a sua hora de vivenciar tal situação era chegada. Preferia, por enquanto, ficar na platéia vendo o sucesso dos demais. Estava satisfeita assim. Era legal ver o sorriso no rosto das pessoas. Não precisava ser, necessariamente, no dela.
Mas ainda se perguntava se um dia conseguiria continuar aquele sentimento que seus pais um dia cultivaram tão lindamente.




Mal sabia ela que o maior de todos os amores era o que a guiava: ser feliz com a felicidade do outro. Esse é o tal do amor verdadeiro. Um dia ela descobriria isso também... Mais tarde.






                                                                                                         

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Viviane Botelho


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Relativo








Porque nem sempre o que parece mais correto é o que melhor convém.



...







Viviane Botelho



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Imagina só?

Sapo é condenado por assédio e nunca mais voltará a ser príncipe.

Branca, de tanta neve, morre congelada.


Rapunzel fica careca logo após trote de Medicina na Universidade das Maravilhas.


Cinderela é pega roubando botas de um certo gato.
Defende-se, aos prantos, dizendo não aguentar mais ser torturada por seu marido. O cônjuge é conhecido por seu gancho e por obrigá-la a usar apenas calçados de vidro.


- Desde quando?

A Bela, que virou fera, adormeceu. Morreu.
A Polícia diz ter encontrado uma maçã perto da cama onde a moça foi achada morta. O anão do grupo jogou-a fora. Todos concordaram que não haveria como uma maçã pudesse servir de suspeita.
A dificuldade em descobrir o que houve parece aumentar.


Um menino falou tantas verdades que perdeu o nariz.

Aladim, um mendigo das ruas de Agrabah, esfregou uma lâmpada e ganhou três porquinhos. Ganhou o dia com o banquete que fez.

Certa dama foi a Terra do Nunca.
Mas não virou vagabunda.
Não virou vagabunda por um triz.

- Desde quando?

Alice morre baleada ao brincar em uma campina com um veado. Veado, triste, acaba por cair em um buraco na floresta. Nunca mais foi encontrado.
Animais dizem ter visto um coelho guiá-lo até lá, mas nada foi comprovado.

Sereias não decidem onde querem chegar:
Se rebelaram contra o mar, subiram à terra.
Se revoltaram com a terra.
Sabe-se lá, depois de abusarem de seus tapetes voadores, qual será o próximo patamar.


PLANTÃO: E, hoje, mais um corcunda se jogou da Torre Eiffeil.


- Desde quando?
- Ah, desde que eu resolvi imaginar desse jeito!






Viviane Botelho

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Querido

Não sei se corro do teu querer
Ou se fico pro teu prazer.
Mas se fico pro teu prazer, corro do meu querer,
E se corro do meu querer, fico sem o meu prazer.

Teu espaço me inclui ao lado
Do teu braço no meu abraço.
Mas teu abraço não se inclui no meu espaço.
Se a distância ao seu lado é menor que a de um braço,
Você me faz mudar de lado:
Querer que a nossa distância se torne a mesma do Espaço.

Não sou a única mulher pra você,
Mas sou mulher no meu único jeito de ser.
Se o meu único jeito de ser me faz única pra você,
Lamento que escolha a mulher que, unicamente, o quer
Sem ao menos o querer.

Entendo que sofro 
Ao não querer te ver sofrer. 
Querido, de uma vez por todas, 
Prefiro não ter você.







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Viviane Botelho



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Aproveitando o Dia dos Pais

Semana passada, estive em uma clínica geriátrica. Fui com meu pai, minha mãe e meu irmão. Tocamos o interfone e uma moça, com voz despreocupada, perguntou quem era. Ao ouvir o nome do meu pai, nos deixou entrar. Chegamos a uma ampla recepção - ampla considerando a maioria das recepções que são pequeníssimas e com mais revistas do que assentos. A moça que nos havia atendido no interfone pediu que esperássemos. Sentamos em um sofá que dava de frente para uma poltrona onde havia um casal de bonecos idosos que era de se encantar. A atenção de nós quatro estava fixada naqueles bonecos um tanto mal ajeitados na poltrona. Me levantei e tentei arrumar melhor, o que, vindo de uma pessoa desajeitada como eu, não resultou em nada. Foi meu pai quem tomou meu lugar e os colocou em uma posição melhor. Ficamos admirando. Mais ainda eu, que sou apaixonada por velhinhos!
Uma moça nos chamou para ajudá-la do outro lado da porta. E lá estava ele. Meus olhos, mesmo ainda sem vê-lo por completo, se encheram de lágrimas, engolidas na mesma fração de segundos. Não ia querer que meu avô me visse chorando. Mesmo ele não lembrando quem eu era por causa daquela droga de Alzheimer, ele perguntaria pelo choro. Eu não gostaria de explicar.
Aqui eu explico.
Meu quase choro foi de susto, de espanto, pasmo! - encontre todos os sinônimos pra essas palavras que elas traduzirão o que senti. Fazia pouco menos de 6 meses que não via meu avô por causa da distância que nos separa. E na última vez eu estava na casa dele, com ele falando meu nome, andando tranquilamente pelos cômodos e conversando sem a menor dificuldade. 6 meses depois preciso ir à uma clínica para visitá-lo e ter a vontade de chorar por nem precisar ver seu rosto, mas só pelo fato de uma das enfermeiras nos chamar para ajudá-lo a andar até onde estávamos.

Como assim?

- Meu avô uns 10 quilos mais magro?
- Meu avô se arrastanto para andar?
- Meu avô tremendo a boca pra falar?
- Meu avô com a língua pra fora como se fosse uma criança pedindo comida?
- Meu avô esquecendo as palavras?
- Meu avô esquecendo os parentes?
- Meu avô querendo pedir água aos bonecos na nossa frente pensando que eram pessoas?
- Meu avô achando que eu fosse uma das enfermeiras?

Ah, meu avô... que durante a sua vida foi um militar extremamente rígido (e encho a boca pra falar que ele chegou a ser motorista de Getúlio Vargas); que sempre tentou fazer tudo que pra ele parecesse a maneira mais correta, no pensar, no falar, no andar, no agir; que sempre foi estudioso, inteligente, interessado; que sempre foi dono de respostas coesas e indagações pertinentes; que descobriu na igreja o único lugar para reconfortar sua alma; que sempre se preocupou com sua família grande de 8 filhos mesmo sem muito sentimentalismo (a profissão influenciava nessa exposição sentimental).
Mas ele aprendeu, com os anos, a amolecer o coração que mais parecia um recruta no quartel, mostrando o pai, o avô e, já, bisavô amoroso que verdadeiramente é.
Com tudo aquilo passando na minha cabeça ao mesmo tempo, eu tinha o meu sorriso mais sincero no rosto ao conversar com ele. Disse que era sua neta e tive o maior orgulho em relembrá-lo de que meus olhos verdes eram total herança dele. Me respondeu meio rabugento que era mentira. Eu garanti que eram e ele riu.
Se eu estava daquela maneira, parei pra pensar no meu pai, ali, envolvendo meu avô, seu pai, durante todo o momento. Certamente, muito pior pra ele do que pra mim. E ele chorou, de maneira um tanto despercebida, mas chorou. Foi rápido. Coisa raríssima de se ver. Conto nos dedos as vezes que vi meu pai chorar.

- Quem diria, dois tipos de pessoas "duronas" ali na minha frente, tão vulneráveis quanto nunca.
Pai e filho ... e filha.

Como a vida é frágil. Como tudo pode mudar de maneira tão inesperada.
Sinto saudade daquele "ô, minha neta" que ele sempre costumava dizer, porque sei que não vou ouvir de novo. Sinto saudade de ver aquela estante cheia de livros e fitas cassetes na sala dele - tudo anotado e enumerado em seu caderninho. Sinto saudade dele sendo como ele, sem uma doença degenerativa atrapalhando o caminho.
Bem, eu, sinceramente, descanso em Deus e deixo a vida caminhar como deve.

Termino meu texto - desabafo - com a frase que ele mesmo usou, surpreendendo a todos, quando estávamos nos despedindo:

- Foi um prazer incomensurável ter vocês aqui!

(orgulho de neta)


Viviane Botelho

Sorrateiro

Olha como o entardecer vem sorrateiro.
É lindo!
Você.
O arrebol é teu corpo inteiro.





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Viviane Botelho



domingo, 1 de agosto de 2010

Final – A sensação era boa

e tudo estava muito confortável. Aquela agonia e aquele pânico haviam sumido por completo. Estava segura e muito bem aquecida. Abriu os olhos e olhou para aquele teto lilás cheio de estrelinhas coladas tão familiar. Piscou algumas vezes e sentiu a sensação boa dar lugar à tristeza. Uma amargura profunda inundou Ivie ao reconhecer seu quarto e ao se ver na cama onde, segundos atrás, sonhava com algo tão real, nítido e tão impactante. "Arghhhh!"
Estava embrulhada em uma infinidade de cobertores que chutou com muita raiva. Ela conseguiu montar um filme em sua cabeça para acordar e se sentir mal por ver que era tudo mentira. "Que ótimo!"
- Por que eu não sonhei que tinha atropelado um cachorro? Tava bom já! Muito mais simples.
Levantou para ir ao banheiro antes que resolvesse chutar mais alguma coisa. Ter tropeçado em um all-star amarelo no meio do caminho não melhorou seu humor. Quando estava escovando seus dentes e se irritando a cada vez que se olhava no espelho, ouviu a introdução de "Gives you Hell - The All-American Rejects" vindo do quarto. Era o alarme do seu celular marcando 7 horas da manhã para ir a faculdade em pleno sábado. Ela havia esquecido de desativar o alarme (como era de costume). Mas não podia ficar mais irritada do que já estava.
Terminou de escovar os dentes rápido para ir desligar o alarme. Foi quando notou uma mensagem não lida em seu celular que havia recebido às 23:14 do dia anterior. Já estava dormindo a essa hora, por isso não viu. Era uma mensagem de André. Ela já imaginava o que poderia ser.
- "Ivie, vamo no clube?" - pressupôs Ivie em voz de deboche - Ah, é, ótimo! Tudo que eu preciso é do André me bajulando todo animado pra ir pra algum lugar, claro! - Ainda irritada, apertou a opção "ver" em seu celular e leu a mensagem:

Ivie, o pessoal tá aqui na cidade. Tava afim de juntar todo mundo como a gente fazia antes. A gente podia ir naquele bar que a gente sempre ia. Po, cara, mó saudade! Só falta você confirmar. Já falei com o Sandro, com o Gustavo, o Robson, o Gabriel e o Dudu também confirmou. O chato do Daniel vai também. A gente tá querendo embebedar o Gabriel. Ele tem que ficar ruim uma vez na vida, né. rs Você tem que ir, cara. Bendito o fruto entre os homens sempre! hehe Beijo.


Viviane Botelho

Parte IV - Entraram nos carros

de acordo com a divisão que André havia feito. Sandro e Gustavo foram no Jipe de Robson e Ivie, Gabriel e Daniel no Gol de André. Ivie ficou no banco de trás junto com Gabriel, o qual parecia não ter noção nem do planeta em que vivia. Durante o trajeto, teve que aguentá-lo tombando para todos os lados, sendo ela um dos alvos. Já estava certa que as cabeçadas e ombradas que levava dele seriam hematomas no dia seguinte. Mas o segurava e protegia na medida do possível. Antes ela com alguns pontos doloridos do que o risco de ele se machucar seriamente, no estado em que estava, por descaso de amigos.
- Daniel, num acha melhor a gente levar o Gabriel pra dormir lá em casa? - perguntou André.
- Por mim, tanto faz. - respondeu Daniel.
- Po, o cara nunca ficou assim. A gente forçou muito a barra pra ele beber e, mesmo os pais dele sendo gente boa, não é legal ver o cara nesse estado.
- Beleza, só vai ter que ligar pra eles avisando, né?
- Faço isso quando a gente chegar. Vou levar você em casa agora então, Ivie.
- Uhum, tudo bem. - Respondeu Ivie com Gabriel deitado em seu colo. Ela não sabia se estava tudo bem ou não. Era tudo mais ou menos. Ir para casa agora ou depois não faria diferença nenhuma, porque ela já não dava a mínima para o que fazer ou deixar de fazer. Ivie estava totalmente entorpecida e sem reação por tamanho desgosto que sentia. A única coisa que conseguia ter foco em fazer era segurar Gabriel. Mais nada.
O carro foi desacelerando e Ivie reconheceu aquela esquina. André parou na calçada que dava para um pequeno portão de grades brancas. Um caminho rodeado de jardins e árvores se revelava antes de chegar a porta principal. Ela estava em casa. Devagar, empurrou Gabriel de seu colo de modo que continuasse a dormir, mas deitado no banco do carro. Se despediu dos irmãos que estavam nos bancos dianteiros e fechou a porta. Observou o carro até sumir em uma curva.
- Fazer o que né... - Disse para si mesma enquanto abria o portão para entrar. Ivie estava mergulhada em devaneios e inquietações com todas as lembranças de Eduardo que acabava por relembrar. Estava cansada de tudo terminar sempre na mesma situação. "Que saco!" Chutou uma das plantas e sentou com raiva em um banco de pedra que ficava no meio do jardim. Cruzou uma perna na outra em cima do banco e começou a chorar. Lágrimas de desapontamento desciam impiedosamente. Ela não emitia som algum, apenas ficou ali com seu olhar fixo em um ponto qualquer do chão e sem nenhuma expressão. Era quase uma estátua de chafariz derramando suas lágrimas mentirosas.
Estava tão absorta em seus pensamentos que não ouviu, vindo de entre as árvores, barulhos de folhas sendo pisadas. As pegadas se aproximavam cada vez mais. Ela só se deu conta que alguma coisa havia de diferente quando sentiu uma respiração em seu ombro. Foi tomada pelo susto e levantou rapidamente se virando para ver quem a estivera vigiando.
- Dudu?!! - Não acreditou no que viu. Eduardo estava todo suado e sujo. Seu estado, junto com sua expressão, poderia ser comparado a de um coelho fugindo de seu predador. Nunca o vira daquela maneira. Sua característica expressão de indiferença e, às vezes, de quase superioridade estavam totalmente ausentes como se jamais houvessem perpassado aquele rosto. Ele nunca estivera tão vulnerável. Nunca estivera tão lindo.
Ivie tratou de enxugar suas lágrimas tremendo. Não entendia nada do que estava acontecendo.
- Você é maluco? O que tá fazendo aqui? Por que me assustou desse jeito? Por que foi embora daquele jeito? Por que você está desse jeito? - Ela nem sabia o que perguntar exatamente. Metralhou perguntas.
- Ivie, desculpa. Ai... que que eu to fazendo? Me desculpa de novo, Ivie. Eu vou embora. - Ele parecia tremer tanto quanto ela e começou a andar meio sem direção.
- Não, fala o que foi. Você veio até aqui, tem que ter alguma explicação pra dar. - Ela não sabia como tinha conseguido dizer aquela frase sem se embolar. Seus pensamentos não estavam funcionando como deveriam.
- Eu não aguento mais!
- Não aguenta mais o que, Eduardo? Não to entendo nada.
- Que droga! Não posso falar.
- Você já começou. Por que ficou tão esquisito hoje? Por que sempre fica esquisito comigo? Você parece que foge de mim. A gente se conhece há tanto tempo e é sempre assim! Você vem me irritando muito por isso. - Ela já não pensava em medir suas palavras. Começou a dizer tudo o que nunca teve coragem de dizer a ele.
- Não fala assim, Ivie. Eu gosto muito de você.
- Se gostasse, suas atitudes seriam outras.
- Não! Não é bem assim ... - Ele quase arrancava os cabelos enquanto falava. Parecia não saber o que fazer ou como fazer.
- Como é então? Me faz entender o que há mais de 9 anos não entendo.
- Tudo bem. Não posso mais guardar isso pra mim. Me mata todos os dias não poder fazer nada.
- Fala logo!!
- O Robson é apaixonado por você, Ivie. Me fez jurar desde tantos anos que eu não diria nada, mas que o ajudaria em relação a você. - "Ahhhhhhhhh? O Robson?" Aquilo foi uma revelação estranha para ela.
- Isso não faz sentido! Nunca notei nada.
- Na verdade, você nunca parou pra notar. Sempre pareceu dar mais atenção a mim do que à ele.
Ela ficou envergonhada quando ele disse isso. "Era tão fácil assim notar isso?" Mas o que não entendeu ali foi o porquê de aquilo deixar Eduardo tão desesperado.
- Essa sua atenção comigo nunca me foi um problema, mas sim com o Robson. Hoje não aguentei. Quando olhei pra você, voltou tudo! Tive que ir embora antes que fizesse alguma coisa errada na frente dele.
"Opa! Peraí, será que ele .... ?"
- Eu... Ivie... bem, não sei como te dizer ... - "É, eu acho que sim!!" - Faz tanto tempo que crio forças pra te contar, mas aí penso no Robson, sempre meu amigão, e nunca consigo. - "Ah, não, você tem que falar!" - Acho sacanagem com ele, mas o que sinto já existia antes mesmo dele. Quando me disse que gostava de você, meu mundo desabou. - "Isso, continua falando." - Passei a fingir todos os meus sentimentos e a tentar bloquear meus pensamentos. - Ele estava elétrico. Parecia não ter certeza se fazia o certo, se ficava ou fugia. Mas já não conseguia parar de falar, e Ivie começava a entender tudo. Respostas estavam sendo dadas. Tudo começava a fazer sentido. Ela quase não se continha de felicidade. Agora ela o via como sempre quis: sem mistérios.
- De uns tempos pra cá, venho reconsiderando a ideia de conversar com você. Repasso tudo pra mim mesmo pensando no melhor jeito, nas melhores palavras...
Foi quando ela teve um flash de Eduardo inquieto e murmurando algo para si quando ainda estavam no bar. Agora ele estava muito nervoso. Em sua expressão, o medo e a insegurança eram personificados com a mais total perfeição. A sensação era de que a qualquer momento ele sairia correndo pelos jardins de nervosismo e se tele transportasse de alguma forma. Ivie ardia de paixão como nunca por aquele menino. Levava agulhadas doloridas no peito por tamanho sentimento.
- Ivie... o que eu quero dizer é que - "Fala logo! Eu também amo você!" Ele chegou mais perto e pegou em sua mão. Ela ficou tonta. Vertigem. Poderia desmaiar a qualquer momento, mas estava atenta, precisava estar. - Eu...
Algo estranho aconteceu. Seus lábios pronunciaram algo, mas ela não conseguiu ouvir. Quando pediu para que Eduardo repetisse, sua própria voz não saiu. Colocou a mão em sua garganta achando tudo muito esquisito, mas não parecia haver nada de errado. Notou que ele continuava falando e que ela não escutava uma palavra sequer. Começou a entrar em pânico. Nesse momento, a expressão dele mudou, ficou calmo e indiferente. Tudo mudou do nada. Largou a mão de Ivie, levantou e começou a se distanciar. Ela quis gritar, mas ainda não havia ruído algum. Resolveu correr atrás dele, mas se viu sem movimentos, presa no lugar onde estava. Não entendeu absolutamente nada. Começou a se debater e seus olhos romperam em lágrimas novamente, mas desesperadas. Começou a chorar descontroladamente. Estava em agonia. Não conseguia ouvir, não conseguia falar e nem ao menos se movimentar. Justo naquele momento mais precioso em que tudo parecia que se resolveria de uma vez por todas. Sua agonia só crescia em só ter a capacidade de assistir Eduardo se afastando cada vez mais, virando as costas e, por fim, se misturando com as árvores e a visão noturna. Não podia acreditar que tudo estava estragado dessa maneira tão estúpida. Tudo acabado sem que ao menos pudesse entender alguma coisa.
As cores do ambiente começaram a se misturar. Sua visão ficou turva. A escuridão da noite a engoliu, abruptamente. Quem se tele transportou foi ela, não ele.

Viviane Botelho

terça-feira, 13 de julho de 2010

Parte III - Ele não aparecia.

Não estava em lugar algum à vista de Ivie. E aquilo aconteceu de maneira muito despercebida. Parou de procurar e se deu conta de que todos a olhavam intrigados, esperando alguma explicação. Pensou logo em uma desculpa para disfarçar aquela situação e disse da maneira mais convincente:
- Poxa, pensei ter visto a Roberta, lembram dela?
- Aquela sua amiga gatinha? Que loira! Claro que me lembro. Delícia! - disse Gustavo, maliciosamente.
- Deixa de ser tarado, Gustavo. Toma vergonha na cara e caça uma mulher pra você. Uma só de preferência, ok?
- Iiiiiiiih! Tomaaaa! - A mesa disse em coro.
- O que eu posso fazer se todas me querem? Quero todas também! - replicou, deliciando-se em suas palavras com um sorriso largo. Ele sabia que tirava suspiros de muitas meninas com seus músculos bem torneados e aquela altura que lhe dava um porte e tanto.
Todos se deram por convencidos com a desculpa de Ivie. Ela se sentiu mais tranquila. A última coisa que queria era ter seu desespero percebido por um dos meninos ali. Nem quis imaginar o que fariam e falariam.
E os minutos passavam. Nada de Eduardo. A curiosidade parecia corroer Ivie, e ninguém ali falava dele. Ela que não perguntaria. Tinha medo que um deslize qualquer em suas palavras deixasse que todos percebessem sua preocupação. Preferia ficar totalmente calada a se expor.
Um celular começou a tocar na mesa. Era de André.
- Alô? - todos continuaram conversando enquanto André levantava para atender ao telefonema em algum lugar menos barulhento. Mas a conversa do grupo não era mais a mesma. Não havia a mesma animação, e, sem Eduardo ali, Ivie era a mais desanimada. Todos estavam meio cansados. Passava de meia-noite, e ela não entendia porque logo ele havia sumido sem dar nenhuma satisfação. Os segundos de silêncio que se seguiram foram quebrados por Sandro:
- Dudu deve ter se afogado na privada. Lesado do jeito que é... - Ele pareceu responder aos pensamentos de Ivie que teve a atenção redobrada. "É, verdade!" Ela não tinha pensado na possibilidade de ele ter ido apenas ao banheiro, mesmo que estivesse demorando para voltar.
- Credo, Sandro. - Disse Ivie em meio a risadas, descontraindo. Reiniciou sua procura se fixando na porta do banheiro masculino, lá nos fundos, de onde vários entravam e saíam. Uma mulher viu sair de lá (parecia uma), mas nem sinal de Eduardo.
André retornou a mesa. Sua expressão era de preocupação, mas não muita. Parecia mais intrigado do que preocupado.
- Era o Dudu no telefone. Disse que tá em casa. - Ivie olhou desolada para André. "Em casa?! Como assim?" Ela sentiu uma mistura de desapontamento e raiva. Quis ir embora naquele momento. A ideia de que Eduardo ainda estava no bar, mesmo que demorasse uma eternidade, era muito mais bem-vinda. Pelo visto, definitivamente, ele não estava e ela não encontrava mais razão pra estar ali sem querer estar. Tudo havia perdido a graça.
- O que que aconteceu pra ele ter ido embora desse jeito, cara? - Perguntou Robson surpreso, e todos os outros prestavam atenção.
- Bem, ele falou que quando levantou pra ir ao banheiro, a irmã dele ligou falando que a avó deles teve pressão baixa em casa e desmaiou. Ele foi desesperado pra lá. Disse que agora já tá tudo bem com ela, mas disse que nem vai voltar pra cá. - Disse André. Ele não parecia convencido do que acabara de falar. Apenas passou a informação e se sentou.
Pareceram satisfeitos com a explicação, mas Ivie não.
Todos já estavam enfadados esperando alguém dizer qualquer coisa que fosse pretexto para todo o resto ir embora. Gabriel tombou de cabeça na mesa totalmente inconsciente. Isso bastou.
- Eu acho melhor a gente levar o Gabriel pra casa. - Disse Daniel. Ninguém exitou. Levantaram na mesma hora.
- Vamo fazer o seguinte, eu levo o Gabriel e a Ivie no meu carro e o Robson leva o Sandro e o Gustavo, beleza? - Sugeriu André.
- Faço esse bem pra humanidade e levo o mala do Sandro. - Debochou Robson. Gustavo riu e levou um tapa na nuca, onde Sandro depositou bastante força.
- Eu sei que me ama de qualquer jeito, Robson. Nem faço questão da sua carona. Mas você ainda é melhor que um ônibus lotado de gente fedida. - Disse Sandro.
Enquanto todos estavam indo em direção a saída, Ivie puxou de leve André e falou:
- Você não pareceu muito convencido do que disse sobre o Dudu. O que que aconteceu de verdade?
- Po, aí que tá. Não sei o que aconteceu de verdade, mas não acreditei muito nessa história do Dudu não. A maneira como ele falou da avó... tava tranquilo demais. Me falou que a avó tinha desmaiado como se estivesse me contado sobre algum passeio. Eu acho que eu taria mais alterado se esse tipo de coisa acontecesse comigo. Eu conheço bem demais o Dudu e tenho certeza que ele tava mentindo. Cara, ele desapareceu do nada daqui.
- É, eu também achei isso esquisito. Bom, esperar pra ver né?
- É.
Depois de pagarem a consumação e saírem pela porta, o cérebro de Ivie estava à mil. Ele sumira depois de tanto encará-la. Alguma coisa tinha haver com ela. Mas hoje que não saberia nem entenderia nada. Dormiria mal, como de costume, com a mente fervendo. O jeito de Eduardo estava sempre fora de sua compreensão. Essa foi mais uma quebra de mais uma brecha que surgira.

Viviane Botelho

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Parte II - Atrás do balcão

e acima de duas prateleiras abarrotadas dos mais variados tipos de garrafas e bebidas, estava o relógio verde de pequenas luzes internas e do ponteiro de movimento ininterrupto, no qual a menina reparou haver passado umas quatro horas desde que chegaram. Eram quase dez horas da noite, e ela, que sempre tão animada, estava quieta, perdida em seus pensamentos e frustrações e desgostosa cada vez que o nome daquele menino perpassava em sua mente ou, simplesmente, quando era citado a mesa. Ela queria terminar bem a noite com os amigos que mal via, mas quando um deles, já fora de si, não acertava a cerveja em seu copo e era motivo de gargalhadas, o máximo que conseguiu foi mostrar um pequeno sorriso de lado com suas famosas covinhas que davam o ar angelical de seu rosto.
- Que idiota! Não sabe beber, toma leite, animal. - Reclamou Sandro com seu tom grosseiro habitual. Era o mais sarcástico, metido a rico e arrogante do grupo com sua pose de superior. Pose que todos os amigos relevavam, porque achavam fútil demais. Vivia reclamando dos outros e insatisfeito com quase tudo. Mas sabia fazer uma boa piada irônica.
- Ih, relaxa aí, ele tá se divertindo, diferente de você que é igual uma lady bêbado, cheio de não-me-toques. Uii, Sandrinhozinho! - Debochou Robson, e os amigos o acompanharam rindo. Ele adorava implicar com Sandro por se achar tão acima de tudo. Implicava principalmente com aquele cabelo escuro dele, jogado de lado. Achava ridícula a mania dele de seguir modinha. Adorava ser daquele jeito despojado, em que roupa boa era qualquer uma que lhe caísse bem. E o cabelo, qualquer pente resolvia.
- É que tenho a capacidade de me comportar, mesmo embriagado. Coisa que eu acho difícil de você conseguir um dia.
- Ah, cala boca!
Sandro apenas ergueu uma de suas sobrancelhas ao ouvir essa resposta e virou com cara de nojo como se todos fossem insetos.
-Parô, ô gente. Para de bri-brigar por causa de eu - Disse (ou pelo menos tentou dizer) Gabriel com seus olhos vermelhos e entreabertos, consequentes do excesso de álcool. - Eu amo todos vocês. Vocês tudo são meus amigos do peito. Não tem que brigar coisíssima nenhuma. Nenhuminha mesmo! - Foi o ápice das risadas.
- Começou a pagação de mico - Disse Sandro enfadado.
- Ih, alá! Acho que o Gabriel falou errado - Disse Gustavo, o bonitão.
- Jura, Gustavo? - ironizou Sandro.
- Mermão, você é a última pessoa que pode dizer que alguém falou errado - Falou Robson, colocando a mão no ombro de Gustavo em um consolo cínico. Este o empurrou de mau humor. Todos sabiam da fama de Gustavo de sempre tropeçar no português. Era lindo, mas uma porta. O que tinha de belo, tinha de burro. Para ele era o suficiente, não precisava de muita inteligência para o que mais gostava de fazer: ficar com as menininhas nas festas.
- Alguém quer brincar de purrinha? - Quem falou foi André, um moreno baixinho que não via tempo ruim nunca e sempre animava o pessoal para tudo. Se não fosse por ele, não estariam todos ali, naquela noite.
- Ah não, chega! A gente só faz isso! Já jogamos cinco vezes, André. - reclamou Daniel, seu irmão dois anos mais novo. Ele havia sido "agregado" ao grupo por estar sempre na cola do irmão. Era o típico irmão mais novo e mais bonito. Até porque, André não era lá grande coisa. Tinha muito mais de divertimento e inteligência do que de beleza.
- Fica na sua, Daniel. Não foi pra você que fiz a pergunta.
- Po, André, mas já encheu o saco mesmo. - Disse Robson.
- Viu, se ferra aí, maninho.
- Cala a boca, pirralho! Quer jogar, Ivie? Tá toda quieta.
- Ela tá é ficando no brilho. - Sandro falou rindo.
- Vamo mudar de jogo, né? E eu só to cansada, Sandro - Disse ela com uma careta para Sandro. E queria continuar quieta mesmo. Estava entediada e nem fazia força para se animar. Ficar pensando muito no menino que era a sua interrogação sempre a deixava um pouco entorpecida.
- Dudu, e você? Vai querer jogar? - Ivie estremeceu pela milésima vez ao ouvir esse nome - Dudu?
- Hã? Oi! Ah, não. Nem quero não.
- Tá nadando no catchup, cara. - disse Gustavo à Dudu.
- Que pessoa antiquada. - murmurou Sandro, referindo-se à Gustavo.
- Não enche, Sandrinho lady. - replicou Gustavo.
- Perdeu, playboy! - Falou Robson para André.
- E acho que nem adianta perguntar pra mim, muito menos pro lesado do Gabriel. - De novo Sandro.
Foi quando ela reparou novamente nele, dessa vez não para uma nova análise. Ela não sabia se era apenas impressão, mas Eduardo parecia inquieto e isso chamou sua atenção. Ora trocava de posição em sua cadeira parecendo não achar posição confortável, ora cutucava a mesa, impacientemente, com seus quatro dedos da mão direita. Já não tinha a mesma atenção nas conversas e, às vezes, com olhos um pouco vidrados, parecia repassar palavras para si mesmo em sussurros, parecendo não querer que notassem. "Deve ser uma nova composição". Ele tinha o hobby de fazer músicas e ela sabia que ele era muito bom nisso com seu violão. Como agora se esforçava para perder a mania de interpretar tudo o que ele fazia como sendo em relação à ela, perdeu o interesse na situação ao ver, no jeito dele, apenas um modo de se distrair do tédio que poderia estar começando a sentir. Ela se viu com sono e recostou em seu banco. Ficou despreocupada.
Foi quando, deliberadamente, olhou ao redor e alguém a estava encarando. Seu coração pulou para cento e vinte batimentos em meio segundo e todo o seu corpo formigou. Ele a estava encarando. Eduardo a estava encarando muito e não desviava o olhar por nada. Aquela pontinha de esperança, de sempre, apareceu. E, no mesmo instante, foi apagada quando lembrou que era sempre assim. Essa era uma daquelas brechas que ele parecia dar e que sempre era anulada, minutos depois. Quem desviou o olhar foi ela. Abaixou a cabeça para tentar se estabilizar daquele banho de adrenalina. E sentia que continuava sendo observada, mas não se ergueu, não quis se iludir mais uma vez. Continuou olhando para seu all-star amarelo esperando que o par ganhasse vida e a levasse para outro lugar onde o nome daquele menino saísse de sua cabeça de uma vez por todas.
Perdeu a noção de quanto tempo ficou abaixada, variando da análise de seu tênis ao piso do bar. E resolveu se voltar para a mesa e encará-lo para ver de que maneira a brecha iria ser quebrada dessa vez. E também não era muito educado, para com seus amigos, preferir dar mais atenção ao chão do que à eles. Então, ela olhou. E, então, ela não viu. Ele não estava mais ali. Olhou ao redor com desespero e não o viu. Notou que seus amigos perceberam seu movimento exagerado. Mas não ligou na hora. Não vê-lo foi como um golpe em seu estômago, fazendo-o murchar e entortar, resultando em uma sensação nauseante. Sentiu um torpor no corpo e certo volume na garganta. Na verdade, aquela esperança não tinha ido embora totalmente. Nunca ia. "Onde pode ter ido? Não foi embora, foi?"

Viviane Botelho

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Parte I - Estavam todos rindo,

aproveitando aquele fim de semana raro em que ninguém viajava. Afinal, cada um já estava indo para o seu canto e construindo sua própria vida. A distância e a saudade eram inevitáveis e, mesmo assim, aquele grupo de jovens amigos insistia em se encontrar quando possível, como naquela noite, naquele bar. Era um lugar sofisticado e simpático de tom rústico, onde sempre costumavam se encontrar em quase todos os finais de semana antes de as faculdades e os trabalhos começarem a surgir e interferir. Aquele "quê" de aconchego, com sofás isolados e bancos acolchoados, dava um ar agradável ao ambiente e, talvez por isso, fazia a clientela ser boa. Aquelas mesas marrons redondas eram sempre motivo de implicância, até porque juntá-las para umas 10 pessoas não era uma tarefa muito fácil. Mas, como jovem se diverte com pouco entre amigos, uma chateação costuma ser motivo de piada.
E lá estava ela. Simpática, animada, tão ruiva quanto nunca e pronta pra rir de um novo comentário ou inventar outro. A menina eternamente apaixonada pela vida e constantemente apaixonada por ele, o menino mais quieto que estava lá à uma distância de dois amigos à sua esquerda. Ele estava perto, mas longe para ela, muito longe do seu entendimento, pois nunca soube lê-lo, não aprendeu. E ela alimentava um sentimento bonito por ele. Era um sentimento tranquilo, saudoso e amigável, mas que descobriu ser, sim, paixão. Já não tinha dúvidas. Talvez, por isso, levasse a vida normalmente sem sentimentos exagerados em que o ser amado não sai do pensamento e interfere em toda rotina. Ela sabia viver sua vida como qualquer outra garota, só que matinha um sentimento como que guardado para alguma ocasião inusitada. Era assim: "Apenas sei que gosto muito dele. Ele na vida dele e eu na minha". Mas, definitivamente, era paixão, pois vê-lo, desde anos que o conhecia, fazia a menina super equilibrada ficar consternada. A presença dele fazia com que as palavras em sua mente fossem estritamente medidas antes de qualquer sinal de fala. Não poderia haver erro algum. E sempre errava. Aquela preocupação toda fazia as palavras tropeçarem, ou, quando conseguia falar como queria, acabava por finalizar com uma risada muito exagerada que logo revelava as bochechas ruborizadas. Mas não sabia se ele percebia o deslize. Melhor que não percebesse, porque ela automaticamente anulava aquela cena de sua mente.
Já havia desistido, há um bom tempo, de investir nele por nunca saber o que fazer. Às vezes, ele falava e agia de uma maneira que parecia dar brecha para uma atitude dela, mas, em seguida, fazia algo totalmente incoerente que quebrava qualquer certeza construída. Tudo voltava à estaca zero. Não era nada que ele fizesse de errado com ela, mais parecia falta de tato ou de percepção. Ela se irritava com isso e, ainda assim, não se desvencilhava daquele sentimento. Não importava a distância, não importava o tempo sem ter notícias dele, era em um "oi" que todas as sensações que pareciam esquecidas voltavam, uma a uma, de novo e de novo. Ela não entendia como, depois de anos, essas sensações perduravam. Chegou a pensar que o amava, um amor contido querendo ser descoberto, mas que se escondia por medo. E, na verdade, essa hipótese nunca saíra de sua cabeça, só estava longe de arriscar em apostar nela para não se machucar.
A cabeça dele sempre foi uma incógnita. E em meio a copos de cerveja, amigos e burburinho de conversas paralelas, não pode deixar de pensar naquilo. Foi o momento em que a menina alegre ficou séria. Não conseguia deixar de tentar lê-lo mais uma vez. "Talvez eu consiga". O foco de seu olhar era o rosto daquele belo menino de cabelos curtos e negros e de pequenos olhos cor de mel um tanto tímidos. Cada traço do seu rosto lhe parecia perfeito. O cabelo desgrenhado e a barba por fazer estavam em perfeita harmonia. O jeito como ria das conversas era hipnotizante para aquela menina que o analisava e apreciava com cautela. Não queria que percebessem e conseguia bem isso. Mas se frustrou novamente. "Já deveria ter me acostumado". Não via nenhum comportamento diferente nele. Seria assim sempre.

Viviane Botelho

terça-feira, 1 de junho de 2010

Eram Meus

Esses dias, eu tava conversando com uma amiga minha, uma dessas conversas mais filosóficas sobre o dia-a-dia, e chegamos a conclusão que nós já perdemos muita coisa, muitas manias, gostos, jeitos de ser e, infelizmente, até amigos. Em meio a tantos livros, cadernos, anotações e energéticos, quase não vejo como mudei e me tornei diferente em relação à tudo. Foi na minha falta de tempo pra fazer as coisas mais bobas, mas que tanto me davam prazer, que refleti e senti saudade. Era bom roubar a tarde inteira dormindo, todos os dias da semana, sem preocupação, assim como eu adorava alugar 5 filmes de uma vez e ver todos pra entregar no dia seguinte. Ainda tinham aquelas noites lendo os "Harry Potters" um atrás do outro sem nem ligar pra ter que acordar cedo. Mas, nossa, do que mais sinto saudade são dos desenhos animados. Meus desenhos animados, meu mundo. Ninguém podia ver televisão no horário dos meu desenhos. Nem por um decreto! Mas uns acabaram, outros não passam mais. Confesso que é inevitável a pontinha de inveja que sinto ao ver o meu irmão mais novinho se divertindo vendo aqueles novos desenhos que são o mundo dele (cada desenho esquisito!). O bom é lembrar em como eu era fiçurada neles, naqueles desenhos da minha idade. Eram meus desenhos animados, só meus. E eu amava.


Viviane Botelho

domingo, 30 de maio de 2010

Reflexão

Se falta amor, sobra dor.
Não há verdade nem há mentira
Na sensação de injustiça
De uma certeza iludida.

Tenho o pé no chão da ilusão.

Pois não percebes a astúcia?... angústia.
De que me serve a visão
Se a dada percepção
É a pura desilusão?


Viviane Botelho

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu, eu-lírico



Ela era uma donzela
Cabelos cor-de-mel
Brilho no olhar
Pensamento lá no céu

A donzela me faz voar
E imaginar
O mundo sem ser como será

Quem era ela?
Ela era ela, a donzela.
Eu a vi passar...



Talvez ela possa voltar,
Talvez ela volte a me inspirar.





                                                                                                                 photo: viviane botelho                                            





Viviane Botelho



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vontade de falar, falar, falar...

Quero que todos que estejam à minha volta me queiram bem. Bem quero poder conquistar o máximo de pessoas que eu puder, sabia? Sabia, sei e saberei ser quem eu sou e quero que me reconheçam exatamente dessa maneira. Maneira essa minha mania de instinto perfeccionista admirado. Admirados e admitidos são meus surtos de alegria com direito a gritos, saltos, frases sem noção e gargalhadas sem explicação. Explicação pra quê? De quê? Por quê? Que não tenham mesmo o menor sentindo mas que sejam um vírus.

[Ser maluco pela metade é ser feliz por inteiro!]

Quero fazer o que conheço e desconheço. Desconhecido é divertido; mistério a ser resolvido. Resolvido! Vou viajar para todos os cantos que a minha condição permitir. Permitindo o fluxo do viver; não me prender como insisto em fazer pra me arrepender por medo do real desejo.

[Desejo, ah, eu desejo, voltar a ter o desejo de ser o desejo de quem eu desejo!]

Quero um livro, uma casinha, os cachorrões no quintal.
Cheiro de grama cortada, vida bem vivida, família no Natal...
- Queria ver meus textos no jornal.

Hum... nem todo querer é poder.
Poder eu tenho pra fazer um intervalo do tentar.
É esse intervalo que vou aproveitar.
Me surpreender!
Vou ver no que vai dar...

Viviane Botelho

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Antitesimal


Aves voam, vozes ecoam. A cada minuto que passa, eu sinto, eu ouço...
Um estalar de dedos e tudo muda, não muda, permanece, tece uma cadeia de correntes que se quebram, se restituem e me enlouquecem. Basta uma palavra e o mundo gira, o dia amanhece, as flores nascem, a vida aquece. Basta uma palavra e a Terra desaba, a noite esfria, as folhas secam a mente emudece.
As mãos, os pés, o corpo é inquieto, perdido em movimentos que não obedecem ao cérebro. O abrir e fechar de portas e janelas revelam a lisonjeira e irritante chuva ensolarada que perdura lá fora. As ondas calmas são traiçoeiras, seduzem, iludem, me carregam para o oceano de dúvidas. Quero um ciclone, quero ser um ciclone...
Arrasar o mar que me tormenta, o sol que se dissipa, a chuva que me incendeia. Nada é satisfatório, tudo é insuficiente nessa fase transitória, nesse mundo intransigente. Eu quero o tempo estável, eu quero as correntes inerentes. Eu quero a brisa, a calmaria, eu quero a mente coerente. Ter sorte ou ser forte...

Eu quero uma certeza além da morte.






Viviane Botelho

sábado, 10 de abril de 2010

Lembre




Lembre que a dor sempre passa. Que você vive em um mundo cheio de opções e diversões. Que os dias se renovam. Que existem milhares de pessoas e lugares pelo mundo que você ainda vai conhecer. Que você vai se apaixonar de novo e de novo. Que na sua vida existem pessoas que se importam de verdade com você e que estão dispostas a apreciar mais um pôr do sol ao seu lado. E, mais importante, lembre que enquanto você respirar tudo estará ao seu alcance.



Viviane Botelho

segunda-feira, 22 de março de 2010

Filme de Terror


Era domingo, à noite. Já havia me arrumado e esperava pelo meu pai e irmão pra irmos a igreja, como de costume. E como chovia. O céu parecia estar em fúria se rebelando com todas as suas forças a base de água. E por mais que eu estivesse protegida debaixo do teto da garagem daquela violência lá fora, sem necessidade, o guarda-chuva continuava me abrigando. Não me dei conta. Eu parecia hipnotizada observando toda aquela tempestade. E aquilo me deu medo. Medo por saber que existem coisas muito piores do que uma forte chuva.
Foi aí que fui pega de surpresa por um estouro vindo da rua e, de repente, o bairro inteiro virou breu. Dentre todas as luzes dominadas pela escuridão, a luz da garagem continuou acesa, sabe-se lá o porquê. Mas fraca. Depois de uns dois minutos apagou de vez como todas as outras. Conclusão do momento: finalmente, meu pai e meu irmão apareceram e saímos. Como era de se esperar, o guarda-chuva não protegeu nada além do topo da minha cabeça.
Voltamos pra casa e, que maravilha, a luz voltou!
Bem, parcialmente. Todas elas estavam fracas e a televisão fazia um barulho bem estranho. Não sei como não queimou. Mas não demorou muito e a luz começou a piscar. Piscou três vezes até cair de vez. E, que raiva, bem no meio do programa. Pelo menos não ouvi meu irmão gritando pela casa com medo. Ele já dormia nessa hora. Mas é normal. São as crianças que tem medo do escuro e dos monstros que podem aparecer, certo?
Daí, comecei a escrever para não perder, como uma amiga minha costuma dizer, o “fio da emenda”. Quando não se tem nada melhor pra fazer eu resolvo pensar em alguma coisa e escrever. Nesse caso, em especial, o fiz porque sei que não são só as crianças que têm “medo do escuro”. E admito que, por ser fã e admiradora de filmes de terror, quando estou no escuro tudo aparece na minha frente: a Samara com aquele cabelão preto dela e toda molhada vinda do poço; o palhacinho de brinquedo bizarro dando aquela risada que precede as famosas frases “Do you wanna play a game?” e “Make your choice”; A Kayako toda torta, de boca aberta e fazendo aquele barulho esquisito junto com o filho Toshio; A Emily Rose virada no chão com a pupila hiper dilatada e por aí vai. Cômico sim, mas são personagens que deixam a cabeça cheia. Essa é a intenção dos filmes. A vontade é de me enfiar no primeiro buraco e nunca mais sair quando fico no escuro sozinha. Sou medrosa, mas a curiosidade ganha e acaba passando por cima disso. Por isso a fixação por filmes de terror e suspense.
Cá pra nós, é no momento em que as luzes se apagam que percebemos a nossa fragilidade e insegurança. Hipócrita pra mim quem disser que não tem medo de estar no escuro. Ou que não sente uma pontinha de aflição quando está sozinho em casa e é surpreendido pelo breu. Sempre vem alguma coisa diferente à cabeça nesses momentos. Não precisa ser nada sobrenatural, que seja o receio de que um ladrão apareça ou que um gato voe em cima de você. Só admita que é uma fraqueza natural. Natural porque analisando mais a fundo descobrimos que a escuridão nos lembra, na verdade, a morte. E a morte mexe conosco, mexe com qualquer um. Lidar com a morte é o como lidar com a escuridão: você não consegue. Tudo por causa do desconhecido.
Por mais que tenhamos nossas convicções sobre como será depois de morrermos, não teremos certeza dos detalhes até chegarmos lá. Nosso medo não é da morte, é do que está por trás dela e não podemos ver. Nosso medo não é do escuro, é do que está por trás dele e não podemos ver. Somando as sentenças: temos medo de tudo que não conhecemos. Eureca! O ponto fraco do ser humano que nunca se contenta em não conhecer e entender tudo. Afinal, não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas.
Mas quem disse que precisamos saber de tudo? A vida não teria graça se tudo nos fosse revelado de mãos beijadas. Não acha? Apenas faz parte. Então, acenda uma vela e escreva um poema. Eu garanto que isso não dá medo nenhum.



Viviane Botelho

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Entendeu?


Desde que um sapo entrou em minha vida meu arrebol mudou de cor. A porta que sempre esteve aberta se fechou e o abismo que era intenso se multiplicou. Meu tênis não pode mais falar e minha canela não para de sangrar como a cachoeira da minha vida que não deixa de jorrar lamentos inquietantes. Porém, um mamão me disse que a discórdia não pode mais andar sem a lua para a iluminar assim como o breu não pode existir sem uma alma para lhe abraçar. O dilúvio é tão triste que traz os mortos à beira-mar e a catedral não mais existe sem um rumo à prosperar. Meu Deus, ainda assim, sofro em permitir que a densidade dos caules, a me rodear, me sufoquem com seus olhos cor-de-mel me levando a proferir palavras de contentamento ao meu ego inflamável. Então, queime meu instinto protelador ou junte-se ao meu mundo incoerente e sem pudor.

Caroline Botelho e Viviane Botelho

sábado, 30 de janeiro de 2010

De volta para o Futuro

A gente sempre aprende, desde pequenos, que não temos como voltar no passado ou voltar atrás no que um dia já aconteceu conosco. Seja isso bom ou ruim. De fato, não podemos. Digo, em carne e osso, não podemos, até porque ainda não inventaram uma máquina do tempo como naqueles filmes de ficção que acabam gerando a maior reviravolta. Imagina só se isso fosse possível? Poderíamos mesmo mudar o curso de tudo. Mas nas mãos de uma pessoa errada acho que o mundo até explodiria.
Mas pare pra pensar em um outro ângulo da situação. Analise uma fotografia, qualquer que seja. Em minha opinião, essa foi sim uma das maiores invenções que já poderiam ter feito. É absolutamente incrível como uma foto é capaz de abrigar uma infinidade de acontecimentos em um mesmo instante: um grupo de jovens sorridentes, uma criança brincando na grama, um cachorro correndo atrás do seu rabo, um senhor de idade sentado em um banco e admirando a bela paisagem que compõe a sua vida, agora, mais calma, um belíssimo arco-íris no horizonte, acusando uma chuva que acabou de ir embora, um ciclista, uma corredora e mais uma variedade de situações. E tudo unido por um único flash..
É aí que paro pra pensar como todas as pessoas estão interligadas. Podemos não conhecer aqueles que estão ao nosso redor, mas é todo o conjunto que forma um ambiente. Talvez, se não houvesse aquela criança com toda a sua inocência e meiguice brincando e aquele cão correndo de forma tão gaiata atrás daquilo que dificilmente iria alcançar, aqueles jovens não estariam sorrindo. Ou se não houvesse uma corredora, talvez aquele ciclista não teria se atrapalhado no seu percurso ao ver aquela linda mulher pela qual se encantou e, quem sabe um dia, voltaria a encontrá-la. E se o arco-íris não estivesse ali? Provavelmente, ainda estaria chovendo e aquele senhor não teria assistido ao tombo do ciclista ao ver a mulher, nem teria visto o cachorro alcançando seu rabo depois de tanto sacrifício. Também não teria presenciado as gargalhadas de certos jovens por assistirem ao desastre do homem na bicicleta. Um casal poderia estar sentado no lugar daquele senhor assistindo a chuva cair.
Mas tudo estava lá. Naquele momento, naquele flash, naquela foto. Tudo estava se interligando. E o instante passou e foi congelado em um simples pedaço de papel. Um papel acessível em qualquer momento do futuro que resgata sensações de um determinado momento do passado. Paradoxo, mas plausível. Pensando assim, acho que podemos resgatar nosso tempo e as diversas coisas que um dia fizemos. Não precisa ir tão longe, só olhar com bons olhos. Nossa máquina do tempo está tão perto! Que tal pegar uma câmera? Divirta-se como aquela criança. Quem sabe ela não era você?




Viviane Botelho

O Universo agradece