quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pai,





abri meus olhos ontem.



Havia seres desordenados. Seres que pareciam não saber exatamente onde estavam, o que faziam ou o que deveriam fazer. Davam as mãos e as soltavam de maneira abrupta - forçada e necessária. A situação não era nada agradável. Seus semblantes exalavam mal-estar. Eram feições fechadas, carregadas de lágrimas, de desamparo, de desespero. Manchadas de suor, de lama, de sangue. Mais sangue, mais lama. Mais lama, mais sangue.

Havia um mundo, Pai. Mundo vidrado, superficial. Ele estava voltado para calamidades. E era tão óbvio que elas eram causadas por esse próprio mundo, mas nada era admitido dessa maneira. Nada mais do que a usura, ambição, ganancia, dinheiro. Nada mais do que loucura, ilusão, enganação e destruição.

Havia eu e minha frustração em ter acordado e ter de estar experimentando aquelas sensações que me estavam sendo empurradas - tantas! Mas algo me dizia que aquilo estava errado. Que não eram aquelas visões que eu deveria ter. Que aquela noção de tudo não era a certa, mas a mais incrivelmente errada. E o que mais eu desejava era que aqueles aos quais eu assistia pensassem dessa mesma maneira. Talvez pudessem passar a distribuir e sentir sensações melhores. Aquela dor era dispensável em todas as suas formas, Pai. Peço a Sua misericórdia, mesmo sabendo que não merecem e que eu não mereço.




Pai, abri meus olhos ontem.
Queria poder fechá-los.






                                                                     photo: web





Viviane Botelho



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O Universo agradece