quarta-feira, 9 de junho de 2010

Parte I - Estavam todos rindo,

aproveitando aquele fim de semana raro em que ninguém viajava. Afinal, cada um já estava indo para o seu canto e construindo sua própria vida. A distância e a saudade eram inevitáveis e, mesmo assim, aquele grupo de jovens amigos insistia em se encontrar quando possível, como naquela noite, naquele bar. Era um lugar sofisticado e simpático de tom rústico, onde sempre costumavam se encontrar em quase todos os finais de semana antes de as faculdades e os trabalhos começarem a surgir e interferir. Aquele "quê" de aconchego, com sofás isolados e bancos acolchoados, dava um ar agradável ao ambiente e, talvez por isso, fazia a clientela ser boa. Aquelas mesas marrons redondas eram sempre motivo de implicância, até porque juntá-las para umas 10 pessoas não era uma tarefa muito fácil. Mas, como jovem se diverte com pouco entre amigos, uma chateação costuma ser motivo de piada.
E lá estava ela. Simpática, animada, tão ruiva quanto nunca e pronta pra rir de um novo comentário ou inventar outro. A menina eternamente apaixonada pela vida e constantemente apaixonada por ele, o menino mais quieto que estava lá à uma distância de dois amigos à sua esquerda. Ele estava perto, mas longe para ela, muito longe do seu entendimento, pois nunca soube lê-lo, não aprendeu. E ela alimentava um sentimento bonito por ele. Era um sentimento tranquilo, saudoso e amigável, mas que descobriu ser, sim, paixão. Já não tinha dúvidas. Talvez, por isso, levasse a vida normalmente sem sentimentos exagerados em que o ser amado não sai do pensamento e interfere em toda rotina. Ela sabia viver sua vida como qualquer outra garota, só que matinha um sentimento como que guardado para alguma ocasião inusitada. Era assim: "Apenas sei que gosto muito dele. Ele na vida dele e eu na minha". Mas, definitivamente, era paixão, pois vê-lo, desde anos que o conhecia, fazia a menina super equilibrada ficar consternada. A presença dele fazia com que as palavras em sua mente fossem estritamente medidas antes de qualquer sinal de fala. Não poderia haver erro algum. E sempre errava. Aquela preocupação toda fazia as palavras tropeçarem, ou, quando conseguia falar como queria, acabava por finalizar com uma risada muito exagerada que logo revelava as bochechas ruborizadas. Mas não sabia se ele percebia o deslize. Melhor que não percebesse, porque ela automaticamente anulava aquela cena de sua mente.
Já havia desistido, há um bom tempo, de investir nele por nunca saber o que fazer. Às vezes, ele falava e agia de uma maneira que parecia dar brecha para uma atitude dela, mas, em seguida, fazia algo totalmente incoerente que quebrava qualquer certeza construída. Tudo voltava à estaca zero. Não era nada que ele fizesse de errado com ela, mais parecia falta de tato ou de percepção. Ela se irritava com isso e, ainda assim, não se desvencilhava daquele sentimento. Não importava a distância, não importava o tempo sem ter notícias dele, era em um "oi" que todas as sensações que pareciam esquecidas voltavam, uma a uma, de novo e de novo. Ela não entendia como, depois de anos, essas sensações perduravam. Chegou a pensar que o amava, um amor contido querendo ser descoberto, mas que se escondia por medo. E, na verdade, essa hipótese nunca saíra de sua cabeça, só estava longe de arriscar em apostar nela para não se machucar.
A cabeça dele sempre foi uma incógnita. E em meio a copos de cerveja, amigos e burburinho de conversas paralelas, não pode deixar de pensar naquilo. Foi o momento em que a menina alegre ficou séria. Não conseguia deixar de tentar lê-lo mais uma vez. "Talvez eu consiga". O foco de seu olhar era o rosto daquele belo menino de cabelos curtos e negros e de pequenos olhos cor de mel um tanto tímidos. Cada traço do seu rosto lhe parecia perfeito. O cabelo desgrenhado e a barba por fazer estavam em perfeita harmonia. O jeito como ria das conversas era hipnotizante para aquela menina que o analisava e apreciava com cautela. Não queria que percebessem e conseguia bem isso. Mas se frustrou novamente. "Já deveria ter me acostumado". Não via nenhum comportamento diferente nele. Seria assim sempre.

Viviane Botelho

6 comentários:

  1. Quando você escrever seu livro promete que me dá um com dedicatória? hahaha
    Sério amiga, ficou muito, muito lindo *-*
    Quero ler mais =)

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  2. O seu texto é gostoso de ler, véi.
    Na moral. aueheahuea

    Putz, gostei. Vou acompanhar.
    O início da história, na descrição do lugar e das pessoas, já me deixou pré-nostálgico, só por saber que isso se aplica a nós daqui a uns anos.
    aeuheauhae

    :D

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  3. "cabelo desgrenhado e a barba por fazer"
    rsrsrs. linda!

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  4. Já está na hora de postar a parte II.
    Beijos

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  5. Entendo quase que perfeitamente como se sente.

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  6. Sentimento de identidade instantânea! Nossa, foi o que senti, assim que li. Cheguei atrasada, e estou indo já pra parte dois. Até daqui a pouco.
    Bjim! ^^

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