sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sem querer querendo




Água me lembra mar, piscina, férias. Vento me lembra pipa, vestido, liberdade. Fogo me lembra o sol (tão desejado no inverno), o calor, churrasco, amigos. Pensar em terra me faz desejar chuva, brincar na lama, ser criança. E como é bom pensar em tudo isso!

A partir do momento em que se escolhe atribuir sensações boas a algo, a perspectiva de mundo muda. Essa mudança se faz importante para a percepção do quanto é possível alcançar a essência do que é a felicidade nos detalhes, ou seja, no que há de mais simples. Ser uma pessoa feliz não implica, necessariamente, ter dinheiro para comprar de tudo, ou se aventurar nos esportes mais radicais constantemente, ou, ainda, ganhar prêmios e mais prêmios para ser reconhecido. Tomar um banho de chuva, beber um chocolate quente em um daqueles dias mais frios ou, apenas, observar o quão linda é uma borboleta em seu voo, são simplicidades que nos preechem e trazem bem-estar, sem pedir muito.

Quando pensei em água, poderia imaginar um afogamento. Quando em vento, poderia pensar em furacões. Fogo, incêndios e terra, em desastres ecológicos. Mas optei pelo otimismo, dessa vez, e por palavras que remetessem a singelos momentos da minha vida.

A mais pura felicidade é encontrada nas situações mais inusitadas em que, de repente, se sente prazer e satisfação.

E se resume a isto.




Viviane Botelho



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Singular




Como se fosse um hábito longínquo sentir aquilo. Não era. Uma sensação reconfortante que transformou a mais louca empolgação na mais singela serenidade. Em questão de segundos, já havia se familiarizado de tal forma com o que estava sentindo que viciara. Não queria que aquele magnetismo, aquele choque de emoções, acabasse. Era lindo demais, era puro demais para que se esvaísse. Seus olhos quase não piscavam e seu corpo não movia um músculo. Não fazia sentido se mexer. Poderia perder um segundo e isso seria quase um sacrilégio para ele. A cada suspiro em seu peito, agradecia à Deus pelo privilégio de estar ali para viver algo que jamais se imaginou capaz de sentir. Quase como que por instinto soube que zelaria com todas as suas forças e, se necessário, com sua própria vida por aquilo que o fazia se sentir daquele jeito. Não explicaria: sentiria; faria.
  

                                                          Petrificado.

Era um lindo berçário. Ele tinha em seus braços seu primeiro filho, que o observava atentamente. Parecia saber que aquele, com a cara mais boba da face da terra, era seu pai. Era a ternura personificada em sua melhor forma.



Viviane Botelho




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Enough






                                                                                                                            photo: web

                                                                                                                                 






Tudo passar. Deixar pra lá.
Descansar. Botar as pernas pro ar.
Um quarto vazio e pensamentos leves.
Uma praia deserta.

O vento pra levar todos os problemas embora.





Viviane Botelho




quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sinceridade





- Vai lá que vai dar certo!
- Não sei, não.
- Para de bobeira. Se não for logo, aí que não vai saber mesmo.
- Ah, vai... Deixa isso pra lá.
- Vou ser obrigada a te forçar?
 - Eu quero você, não a sua amiga.





Viviane Botelho




segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Contentamento




Ela era uma menina solitária. Não tinha muitos amigos. Na verdade, considerava não ter nenhum. Sempre ouvia dizer que uma amizade de verdade era aquela recheada de boas risadas e bons momentos, mas alicerçados em total confiança, encorajamento e apoio quando estes não fossem os melhores. Nunca teve alguém que sentisse poder confiar sequer um segredo, pois desde o dia que um de seus lápis de cor fora roubado por um de seus colegas no jardim de infância, aprendeu que não há como saber o que esperar de alguém. Aquilo foi só um prelúdio de coisas maiores que estariam por vir em sua vida.

Mas havia uma coisa em que acreditava. Diziam ter o nome de amor. Acreditava que esse era um sentimento que talvez considerasse capaz de mudar algo. Enxergava assim, pois gostava de pensar em sua origem, a qual remetia ao sentimento forte que seus pais um dia compartilharam. Verdade que este não possuía mais a intensidade de antes, mas em algum período da história foi capaz de gerar uma coisa maior, uma nova vida. A sua vida. Então, isso não poderia ser qualquer coisa. Sentia que deveria, de alguma maneira, continuar de onde seus pais, hum... desaceleraram. Mas não sabia bem como. Via tanta maldade pelo mundo que era difícil ver um meio de expandir esse tal amor.

Descobriu que excesso de amor poderia trazer coisas ruins, na medida em que esse excesso se tornava, na realidade, em um outro sentimento nada agradável, um tal de ódio. Não trazia consequências muito boas. Aos poucos, também percebeu que aquela definição de amizade que aprendera nada mais era do que um amor solidário, carinhoso, divertido, que chegava a viciar de tão bom. Chegou a ter um devaneio de que esse vício fora apelidado de "amizade" só pra diferenciar do amor mais forte, aquele exaltado nos livros de romance. Mas tudo aprendeu sozinha, observando, escutando, analisando. E, cada vez mais, tinha a convicção de que esse sentimento tinha poder. Quando se sentia mal, derrotada, desiludida, lembrava de seus pais. Sentia-se melhor. Aprendeu uma nova palavra: esperança. Poderia ser um tipo de amor também, mas um diferente, que estaria por vir, talvez. Ou ligado à alguma certeza, mesmo que mínima. Tinha suas dúvidas. Mas era uma sensação boa. Trazia paz.

Ela não chegou a experimentar todos os amores possíveis, se é que havia experimentado algum. Acreditava estar muito longe deles. Só via tristeza em sua caminhada de vida. Gostava é de observar a tudo e a todos. Aprendeu que havia sim a possibilidade de confiar em alguém, mas não achava que a sua hora de vivenciar tal situação era chegada. Preferia, por enquanto, ficar na platéia vendo o sucesso dos demais. Estava satisfeita assim. Era legal ver o sorriso no rosto das pessoas. Não precisava ser, necessariamente, no dela.
Mas ainda se perguntava se um dia conseguiria continuar aquele sentimento que seus pais um dia cultivaram tão lindamente.




Mal sabia ela que o maior de todos os amores era o que a guiava: ser feliz com a felicidade do outro. Esse é o tal do amor verdadeiro. Um dia ela descobriria isso também... Mais tarde.






                                                                                                         

                                                                                                 photo: web







Viviane Botelho


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Relativo








Porque nem sempre o que parece mais correto é o que melhor convém.



...







Viviane Botelho



O Universo agradece